Conferência que acontecerá em Londres está recebendo trabalhos
Blog do PPGCOM da Universidade Tuiuti do Paraná: Conferência que acontecerá em Londres está recebendo trabalhos: Estão sendo recebidos trabalhos para o “IVSA 2013 Conference, ―The Public Image”, congresso que acontecerá em julho em Londres. O prazo para a apresentação do resumo é até 31 de março de 2013. Os autores serão notificados até o final de abril.
Dentro do evento, há o grupo “ Graffiti, Affective Inscriptions and the New Expressions of Visibilities in the Urban Landscape”, organizado pelos pesquisadores brasileiros Tatiana Amendola Sanches e Tarcisio Torres Silva, ambos da Unicamp.
Hoje foi um belo dia. Tudo certo. Planejei um passeio pela praia com o aluguel de uma bicicleta (3 CUC). Lindo o caminho, cheio de pequenas propriedades rurais e muito pouco movimento num país com gasolina cara para os padrões locais e muito poucos veículos. O trajeto foi leve na ida, apesar da distância considerável da praia.
No meio do caminho conheci duas brasileiras e um inglês que estavam num hotel no meio do caminho. Eles disseram que a praia ea muito bonita e acabei indo conhecer. O lugar era lindo, a água do mar era morna e transparente e havia uma estrutura boa, apesar de algumas particularidades próprias dos resorts de lá.
Uma delas é a arquitetura. São prédios densos, pouco parecidos com o que se encontra em outros resorts. Os serviços básicos estão ali (bar, portaria, segurança), mas há um que de calmaria no ar. O melhor de tudo é imaginar que a estrutura deles também é "social", no sentido de que qualquer turistas (aparentemente) poderia usufruir da estrutura, mesmo não estando alocado nas dependências. Cuba libre no bar, turistas europeus nas esterias. Valeu pelo visual e o descanso merecido no meio do caminho para a praia final.
Meus amigos acabaram indo embora. Foi um prazer falar em portugues depois de tantos dias arrastando um portunhol. Continuei um pouco mais e depois fui para a praia de Ancón.
A praia é sim bonita,mas ainda fico com a anterior do hotel (playa de los amigos, acho). Descobri um passeio de snorkel por 10 CUC que talvez faça amanhã.
Delfim, sua mulher Terezinha e a neta deles
A volta, apesar de lindas paisagens, foi mais cansativa. Aliás, bem cansativa, mas cheguei bem a tempo para o BANQUETE que haviam me preparado por 8 CUC na casa do Delfim. Ótimo. Completo, com sobremesa (rocambole e café). Para terminar, 30 minutos de internet (3 CUC) e uma volta pela Plaza Mayor para ouvir um pouco de boa música cubana.
Artola
Lá conheci Artola, um cubano engraçado que me fez companhia. Contou-me várias coisas sobre os cubanos e a rotina de quem mora em Trinidad. Comemorava com seus amigos o aniversário de um deles. Tomavam rum cubano (não o Havana Club, mas um acessível na moeda deles). Enquanto isso, eu eu todos os outros turistas tomávamos cerveja em CUC...
Saí cedo da casa da Angela direto para o terminal de ônibus. 25 CUC até Trinidad. Uma fortuna no dinheiro cubano, o que seleciona o público interno do ônibus, em sua maioria feito de turistas transitando pelo país. Viagem tranquila, ar condicionado e belas paisagens, principalmente à beira mar.
Na chegada, uma pequena decepção. A casa de Yolanda estava cheia e ela me encaminhou para uma outra casa mais simples. Antes, porém, pedi para olhar a casa dela por dentro, já que tinha sido muito elogiada ainda em Havana. Ação corretíssima essa. As casas particulares de Trinidad são, no geral, lindas. A cidade preservou não só seus casarões, esquecidos pelo tempo e preservados pelo socialismo, mas também o mobiliário do século XIX dentro das casas.
Minha interpretação dessa preservação tem sim muito a ver com o socialismo. Móveis e outros objetos presentes nas casas dos anos 50 foram preservados ao não serem substituídos por outros mais modernos. Isso acontece de maneira generalizada na maioria das casas. Se bem cuidades, ficam com um aspecto estremamente charmoso, uma vez que tudo ali, assim como os carros nas ruas, pertencem a uma outra época. O lado negro da história é que imagino que há uma preservação também pois custaria caro ao bolso cubano substituir um móvel da casa por um outro mais moderno, seja ele qual for. Nesse impasse econômico, ganhou a preservação e o caráter aconchegante desses lugares e da cidade de uma maneira geral.
A casa em que fui alocado era a casa de Delfim e Terezinha. À tarde, dei um passeio rápido de reconhecimento na cidade e depois, leitura, planejamento e apaguei de cansaço numa cama boa, confortável (e nova).
Uma pausa nos post para lembrar as declarações infelizes do nosso presidente que estão repercutindo tão mal na imprensa internacional. Expresso-me por da charge do Angeli hoje na Folha.
O dia começou com uma conversa animada no café da manhã sobre os CDRs (Comitês de Defesa da Revolução).
Os CDRs são órgãos de controle e organização que são organizados por quarteirões. Em cada quarteirão há um presidente do comitê. Entre suas atribuições, estão a organização do quarteirão, atenção para questões de ordem de saúde pública, manutenção de vias, etc. Prezam também pela segurança, observam o comportamento de crianças e adolescentes e cumprem a função de mentores da família quando, por exemplo, observam que um adolescente não está frequentando a escola.
Para outros cubanos, o comitê também é visto como já diz o nome, aquele que defende a "revolução". Nesse caso, a função está ligada à vigilância. Ações subversivas, comentários contrários à posição oficial do governo e outros tipos de policiamento também podem ser alvo dos CDRs. O órgão é tão importante dentro da organização social em Cuba que existe até um museu em sua homenagem.
Uma das praças da Universidade de Havana. Veja o tanque como "adereço decorativo"
Depois da conversa sobre os CDRs, andai mais uma vez por dentro da linda Universidade de Havana, localizada no pé de um morro no bairro de Vedado. Dentro da Universidade, há um tanque de guerra que faz menção à participação dos estudantes na revolução. É um tanto quanto estranho um instrumento de violência enfeitando a praça pública de uma universidade.
Saindo de lá, resolvi andar novamente pelo Centro. Mas era sábado e, apesar do meu esforço de todo dia pegar um ônibus de linha como um cidadão comum, nesse dia cansei. Ônibus lotados e muita gente ficando para fora, como nos metrôs em horário de pico. Nesse dia cedi e fui pegar um taxi. Dei sorte de conseguir um táxi lotação, mais em conta do que os outros (10 MN para uma corrida de Vedado até o centro).
Teto do Museu de Belas Artes
No centro, visitei o Museu de Belas Artes (arte mundial). Ali você entende um pouco da importância geográfica da iha de Cuba. Uma quantidade significativa de quadros de pintores famosos como Velazquez, Goya, Rubens, Coubet e Gainsborough estão ali. As coleções estão separadas por países e é evidente a contribuição significativa da Espanha, claro, mas também da Inglaterra, França e Estados Unidos.
4º dia - 29 de janeiro de 2010 - Havana - 1º encontro com blogueiros
Laritza, eu e Ivan
Em Havana, tive dois encontros com blogueiros. Eles foram proporcionados pelos contatos que consegui fazer rapidamente antes de sair do Brasil por meio do blog Desde La Habana.
A grande intermediadora dos encontros foi Tania, jornalista que em 2003 foi exilada de Cuba por questões ideológicas. Vive na Suíça e tem uma neta em Cuba que só conhece por fotos. A menina nasceu depois dessa data. Quando entrei em contato com ela, foi muito receptiva. Forneceu-me todos os contatos necessários, me orientou sobre alguns cuidados a serem tomados durante nossos encontros por lá e ainda viu em mim a possibilidade de fazer contato mais direto com seu filho e sua neta. Pediu para que eu levasse algumas coisas para eles, o que acabou sendo um outro bom motivo para o encontro.
O filho de Tania chama-se Ivan. Por intermédio dela, ele ficou sabendo que eu teria interesse em conversar com eles quando estivesse em Cuba. Quando liguei para ele, marcamos um encontro à tarde numa cafeteria no centro de Havana. Ironicamente, enquanto eu os esperava, pedi uma "cola", esperando que viesse uma "TuKola", que é cola cubana. Fui servido com uma "Coca-Cola". E quando meus amigos blogueiros chegaram, lá estava eu, no café do Hotel Inglaterra, cheio de gringos, tomando uma Coca-Cola que valia o equivalente a 10% do salário de um cubano (25 CUC).
Ivan apareceu com uma outra blogueira, a Laritza. Ficamos por ali durante um tempo e aos poucos, acredito eu, fui ganhando confiança deles. A princípio a conversa tinha os moldes de uma entrevista formal, mas aos poucos foram se abrindo e aquele acabou sendo um dos melhores dias em Havana. Saímos da cafeteria que vendia para gringos para uma outra que tinha mais frequentadores cubanos, apesar dos preços continuarem em CUC.
A conversa com os dois foi fantástica. Colocaram seu ponto de vista sobre o sistema cubano de uma forma muito enérgica e sincera. Trocamos impressões sobre os países, os governantes e os sistemas como um todo. Tudo foi muito rico e extremamente proveitoso em todos os sentidos. Ficará na memória como testemunho do ponto de vista da "Generation Y" sobre o sistema econômico, político e social Cubano.
O melhor de tudo foi ver a forma como encaram o sistema. Apesar da dureza, da ditadura, da falta de liberdade de expressão, carregam um humor contagiante que torna tudo aquilo mais leve quando contado da forma como contam. Seria até engraçado, se não fosse tão triste.
Conversando com eles, percebi também que Cuba criou sua própria massa crítica. Ivan é jornalista independente, trabalha para um jornal espanhol. Laritza é advogada. Ambos tem uma visão muita clara, lúcida e não alienada de sua condição. Entre tantos pontos negativos que colocavam para mim, ressaltei essa característica. Sua educação privilegiada os torna críticos e incapazes de ignorar o que se passa em sua volta. O sistema educacional cubano, tão valorizado pelo governo, tem como alto preço a criação de uma quantidade cada vez maior de cidadãos que não são capazes de fingir que estão felizes com aquilo que os rodeia. A reinvidicação por mudança e transformação acaba sendo natural e a propaganda política uma farsa.
Casarão em Vedado. Arquitetura de luxo revisitada pelo socialismo.
Hoje sem dúvida acabou sendo um dos dias mais interessantes. Comecei com uma caminhada descompromissada em Vedado. Os prédios, lindos, sugeriam uma atmosfera americana anos 50. Há ruas em que nitidamente há como uma impressão de volta no tempo, com os casarões e os carros estacionados lembrando os dias antes da revolução.
Esta rua em Vedado é um exemplo dessa "volta ao passado" que a visão do bairro traz
Enquanto tirava fotos em Vedado, vi um trio composto por uma senhorinha e dois senhores. Ao me aproximar deles, a senhorinha, de cabelo pintado e toda maquiada me chamou a atenção.
Ela disse:
"Você não devia ficar tirando fotos de casas velhas. Tire fotos das escolas. Aqui em Cuba não há analfabestismo. As crianças não andam descalças pela rua".
Eu disse:
"Também estou tirando fotos das coisas bonitas. O que vejo nas casas é um contraste na ocupação, só isso".
Ela disse:
"Não tire fotos das casas velhas"
Eu disse:
"Posso tirar uma foto sua então?
Ela disse
"Não".
Apesar da negativa, consegui tirar uma foto do grupo à distância.
Trio de cubanos em Vedado. A senhora com quem conversei é a do meio.
E como havia prometido para a senhora, também iria tirar foto das coisas bonitas. Uma bela escola que funciona num desses casarões do bairro, por exemplo.
Escola para crianças em Vedado
Depois do "sermão" dos velhinhos, fui caminhando pelo bairro até cair numa área muita ampla, cheia de avenidas. Aqui gostei de ver a forma como os terrenos são ocupados na cidade. Todo pedaço de terra pose ser utilizado de alguma maneira. Foi o que eu percebi quando via terrenos baldios. Belas hortas eram cultivadas pelos trabalhadores.
Cultivo de verduras e legumes em terrenos de Vedado
Passei então pela imensa Praça da Revolução em que as faces estilizadas de Che e Camilo Cienfuegos como que sobrevoam no ar quando ilumidas à noite. Em frente à praça da revolução, fica o belo monumento e o memorial a José Martí.
Praça da Revolução, com os prédios do governo ao fundo e a imagem de Che
Memorial José Martí
Em Vedado fica também a necrópole da cidade, outro ponto que mostra a fartura material em que já esteja a cidade um dia. Muitos monumentos em mármore. Lá fica o túmulo daquela que hoje é chamada de Milagrosa. Trata-se de uma mulher que morreu no parto era visitada quase todos os dias pelo marido desconsolado. Este, quando ia embora, batia nos anéis de bronze do túmulo e caminhava ao contrário para não dar as costas para o túmulo. O lugar virou uma espécie de espaço para um ritual em que mães, maridos e mulheres grávidas pedem pela saúde deles e de seus filhos.
O grupo fo sem dúvida uma das melhores apresentações culturais (e modernas) de Cuba. Imenso, composto em sua maioria por integrantes joves, o grupo fez uma apresentação eclética, com mistura de estilos que iam desde as raízes da música cubana, passando pela Santeria (religião cubana similar ao candonblé), ópera e dança.