sexta-feira, março 05, 2010

4º dia - 29 de janeiro de 2010 - Havana - 1º encontro com blogueiros

Laritza, eu e Ivan

Em Havana, tive dois encontros com blogueiros. Eles foram proporcionados pelos contatos que consegui fazer rapidamente antes de sair do Brasil por meio do blog Desde La Habana.

A grande intermediadora dos encontros foi Tania, jornalista que em 2003 foi exilada de Cuba por questões ideológicas. Vive na Suíça e tem uma neta em Cuba que só conhece por fotos. A menina nasceu depois dessa data. Quando entrei em contato com ela, foi muito receptiva. Forneceu-me todos os contatos necessários, me orientou sobre alguns cuidados a serem tomados durante nossos encontros por lá e ainda viu em mim a possibilidade de fazer contato mais direto com seu filho e sua neta. Pediu para que eu levasse algumas coisas para eles, o que acabou sendo um outro bom motivo para o encontro.

O filho de Tania chama-se Ivan. Por intermédio dela, ele ficou sabendo que eu teria interesse em conversar com eles quando estivesse em Cuba. Quando liguei para ele, marcamos um encontro à tarde numa cafeteria no centro de Havana. Ironicamente, enquanto eu os esperava, pedi uma "cola", esperando que viesse uma "TuKola", que é cola cubana. Fui servido com uma "Coca-Cola". E quando meus amigos blogueiros chegaram, lá estava eu, no café do Hotel Inglaterra, cheio de gringos, tomando uma Coca-Cola que valia o equivalente a 10% do salário de um cubano (25 CUC).

Ivan apareceu com uma outra blogueira, a Laritza. Ficamos por ali durante um tempo e aos poucos, acredito eu, fui ganhando confiança deles. A princípio a conversa tinha os moldes de uma entrevista formal, mas aos poucos foram se abrindo e aquele acabou sendo um dos melhores dias em Havana. Saímos da cafeteria que vendia para gringos para uma outra que tinha mais frequentadores cubanos, apesar dos preços continuarem em CUC.

A conversa com os dois foi fantástica. Colocaram seu ponto de vista sobre o sistema cubano de uma forma muito enérgica e sincera. Trocamos impressões sobre os países, os governantes e os sistemas como um todo. Tudo foi muito rico e extremamente proveitoso em todos os sentidos. Ficará na memória como testemunho do ponto de vista da "Generation Y" sobre o sistema econômico, político e social Cubano.

O melhor de tudo foi ver a forma como encaram o sistema. Apesar da dureza, da ditadura, da falta de liberdade de expressão, carregam um humor contagiante que torna tudo aquilo mais leve quando contado da forma como contam. Seria até engraçado, se não fosse tão triste.

Conversando com eles, percebi também que Cuba criou sua própria massa crítica. Ivan é jornalista independente, trabalha para um jornal espanhol. Laritza é advogada. Ambos tem uma visão muita clara, lúcida e não alienada de sua condição. Entre tantos pontos negativos que colocavam para mim, ressaltei essa característica. Sua educação privilegiada os torna críticos e incapazes de ignorar o que se passa em sua volta. O sistema educacional cubano, tão valorizado pelo governo, tem como alto preço a criação de uma quantidade cada vez maior de cidadãos que não são capazes de fingir que estão felizes com aquilo que os rodeia. A reinvidicação por mudança e transformação acaba sendo natural e a propaganda política uma farsa.

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