O sistema dos objetos
Tenho o bom hábito de, sempre ao sair de casa para dar aulas ou para alguma ocasião importante, olhar no espelho e fazer alguns elogios à minha nobre pessoa. O trabalho de Escher, estranhamente, lembrou-me desse hábito. Talvez porque a esfera reproduza praticamente todo o ambiente em que se encontra o artista, neste, que é considerado um dos auto-retratos mais criativos da história da arte. O apartamento em que estou, pequeno mas aconchegante, reflete-me nas pequenas coisas que o compõe.
Engraçado esse poder que as coisas tem de dar vida a um lugar. Coisas inanimadas que dão vida a um espaço qualquer. Apesar de não-vivas, podem ser novas e antigas, o que explica a "vivacidade" das primeiras. O filósofo Baudrillard, que escreveu "O sistema dos objetos" talvez explicasse melhor essa aura iluminada sobre as coisas que compõe o lugar.
Ontem morreu o filósofo. Vão com ele a forte crítica à comunicação de massa e à sociedade de consumo. Vai também essa minha dúvida com relação aos objetos que me cercam. Cerco-me de livros novos, papéis, roupas, comidas, móveis. Transformo minha personalidade em matéria. A casa dos meus pais guarda memórias, de outros tempos. Olho para as coisas de lá e acho velhas. As daqui, mesmo que tenham vindo de lá, considero novas, já que continuam me acompanhando, por isso sempre novas.
E uma amiga que foi até a casa da Lina Bo Bardi em São Paulo e disse que a casa foi preservada nos mínimos detalhes depois que ela morreu. Xampu, sabonete, talheres. Tudo ainda está na casa. Velha para quem visita. Eterna para quem a deixou.
Os objetos e suas histórias.
Mais? Dá uma olhada nisso.
Marcadores: apartamento, baudrillard, consumo, objetos
4 Comments:
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o homem se faz cultura, do contrário, seríamos definidos pela capacidade de caçar e sobreviver.
cada casa é um museu de quem a habita, não importa a classe social, o gosto, o que sobra ou falta.
ate o quarto de hotel, bagunçado com as coisas que cada um traz, reflete isso.
ainda bem, eu diria, por mais pasteurizado que o raivoso baudrillard acreditasse ser.
e viva escher e as possibilidades subjacentes do ser.
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Museu de quem habita... não há dúvida... e é por isso mesmo que a casa das pessoas mais velhas parecem um museu...
E a mãe de um amigo meu tem uma estátua (um pierrô) de 1889 na sala.
Acho o máximo.
Abraços
Tar, adorei o texto.
Vc sabe como gosto de deixar minha casa com cara de meu museu, minha historia.;0)
E vcs moram em um ape muito aconchegante mesmo,eu adorei.bj.
que post mais legal!
parabéns, tar.
1 bjo,
cris.
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