sexta-feira, março 12, 2010

Lula Visita


Uma pausa nos post para lembrar as declarações infelizes do nosso presidente que estão repercutindo tão mal na imprensa internacional. Expresso-me por da charge do Angeli hoje na Folha.

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5º dia - Havana

Placa indicando o CDR de um quarteirão


O dia começou com uma conversa animada no café da manhã sobre os CDRs (Comitês de Defesa da Revolução).

Os CDRs são órgãos de controle e organização que são organizados por quarteirões. Em cada quarteirão há um presidente do comitê. Entre suas atribuições, estão a organização do quarteirão, atenção para questões de ordem de saúde pública, manutenção de vias, etc. Prezam também pela segurança, observam o comportamento de crianças e adolescentes e cumprem a função de mentores da família quando, por exemplo, observam que um adolescente não está frequentando a escola.

Para outros cubanos, o comitê também é visto como já diz o nome, aquele que defende a "revolução". Nesse caso, a função está ligada à vigilância. Ações subversivas, comentários contrários à posição oficial do governo e outros tipos de policiamento também podem ser alvo dos CDRs. O órgão é tão importante dentro da organização social em Cuba que existe até um museu em sua homenagem.

Uma das praças da Universidade de Havana. Veja o tanque como "adereço decorativo"


Depois da conversa sobre os CDRs, andai mais uma vez por dentro da linda Universidade de Havana, localizada no pé de um morro no bairro de Vedado. Dentro da Universidade, há um tanque de guerra que faz menção à participação dos estudantes na revolução. É um tanto quanto estranho um instrumento de violência enfeitando a praça pública de uma universidade.


Saindo de lá, resolvi andar novamente pelo Centro. Mas era sábado e, apesar do meu esforço de todo dia pegar um ônibus de linha como um cidadão comum, nesse dia cansei. Ônibus lotados e muita gente ficando para fora, como nos metrôs em horário de pico. Nesse dia cedi e fui pegar um taxi. Dei sorte de conseguir um táxi lotação, mais em conta do que os outros (10 MN para uma corrida de Vedado até o centro).

Teto do Museu de Belas Artes

No centro, visitei o Museu de Belas Artes (arte mundial). Ali você entende um pouco da importância geográfica da iha de Cuba. Uma quantidade significativa de quadros de pintores famosos como Velazquez, Goya, Rubens, Coubet e Gainsborough estão ali. As coleções estão separadas por países e é evidente a contribuição significativa da Espanha, claro, mas também da Inglaterra, França e Estados Unidos.

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sexta-feira, março 05, 2010

4º dia - 29 de janeiro de 2010 - Havana - 1º encontro com blogueiros

Laritza, eu e Ivan

Em Havana, tive dois encontros com blogueiros. Eles foram proporcionados pelos contatos que consegui fazer rapidamente antes de sair do Brasil por meio do blog Desde La Habana.

A grande intermediadora dos encontros foi Tania, jornalista que em 2003 foi exilada de Cuba por questões ideológicas. Vive na Suíça e tem uma neta em Cuba que só conhece por fotos. A menina nasceu depois dessa data. Quando entrei em contato com ela, foi muito receptiva. Forneceu-me todos os contatos necessários, me orientou sobre alguns cuidados a serem tomados durante nossos encontros por lá e ainda viu em mim a possibilidade de fazer contato mais direto com seu filho e sua neta. Pediu para que eu levasse algumas coisas para eles, o que acabou sendo um outro bom motivo para o encontro.

O filho de Tania chama-se Ivan. Por intermédio dela, ele ficou sabendo que eu teria interesse em conversar com eles quando estivesse em Cuba. Quando liguei para ele, marcamos um encontro à tarde numa cafeteria no centro de Havana. Ironicamente, enquanto eu os esperava, pedi uma "cola", esperando que viesse uma "TuKola", que é cola cubana. Fui servido com uma "Coca-Cola". E quando meus amigos blogueiros chegaram, lá estava eu, no café do Hotel Inglaterra, cheio de gringos, tomando uma Coca-Cola que valia o equivalente a 10% do salário de um cubano (25 CUC).

Ivan apareceu com uma outra blogueira, a Laritza. Ficamos por ali durante um tempo e aos poucos, acredito eu, fui ganhando confiança deles. A princípio a conversa tinha os moldes de uma entrevista formal, mas aos poucos foram se abrindo e aquele acabou sendo um dos melhores dias em Havana. Saímos da cafeteria que vendia para gringos para uma outra que tinha mais frequentadores cubanos, apesar dos preços continuarem em CUC.

A conversa com os dois foi fantástica. Colocaram seu ponto de vista sobre o sistema cubano de uma forma muito enérgica e sincera. Trocamos impressões sobre os países, os governantes e os sistemas como um todo. Tudo foi muito rico e extremamente proveitoso em todos os sentidos. Ficará na memória como testemunho do ponto de vista da "Generation Y" sobre o sistema econômico, político e social Cubano.

O melhor de tudo foi ver a forma como encaram o sistema. Apesar da dureza, da ditadura, da falta de liberdade de expressão, carregam um humor contagiante que torna tudo aquilo mais leve quando contado da forma como contam. Seria até engraçado, se não fosse tão triste.

Conversando com eles, percebi também que Cuba criou sua própria massa crítica. Ivan é jornalista independente, trabalha para um jornal espanhol. Laritza é advogada. Ambos tem uma visão muita clara, lúcida e não alienada de sua condição. Entre tantos pontos negativos que colocavam para mim, ressaltei essa característica. Sua educação privilegiada os torna críticos e incapazes de ignorar o que se passa em sua volta. O sistema educacional cubano, tão valorizado pelo governo, tem como alto preço a criação de uma quantidade cada vez maior de cidadãos que não são capazes de fingir que estão felizes com aquilo que os rodeia. A reinvidicação por mudança e transformação acaba sendo natural e a propaganda política uma farsa.

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